Uma análise não é o espaço de valorização da virtude

Uma análise não é o espaço de valorização da virtude. Diferentemente de outras terapias, a psicanálise nos confronta com uma verdade que muitas vezes não queremos saber. É um trabalho curioso e também por isso difícil de transmiti-lo. Dia desses, conversava com uma amiga, também psicanalista, e falávamos sobre a estranha sensação que se tem após algumas sessões, em que a costura e o corte parecem um efeito de cirurgia, e uma espécie de ressaca vai, aos poucos, dando lugar a uma nova relação consigo e com o próprio corpo. 

Nesse movimento, aquele lugar que antes pertencíamos – e que, embora fosse fonte de sofrimento, também era um lugar cômodo e familiar (e que podemos chamar também de gozo) – perde espaço. É por isso que não há mudanças sem perdas. É preciso ceder de uma parcela desse gozo, dessa libra de carne, desse lugar de estranho conforto incômodo, para ir além. É preciso perder para ganhar. 

Uma análise, ao subverter a lógica da virtude e nos permitir encontrar com aquilo que não queremos saber, dá espaço para saber fazer com o que, antes, nos causava tanto horror. Mas, para isso, é preciso fazer a travessia. Sozinhos, mas não sem o Outro

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